segunda-feira, 5 de maio de 2014

Canetinhas Coloridas (Crônica)

Andando pela rua, fui visitado pelo meu passado. Ele veio até mim na forma de uma mão magra e um tanto calejada, que me estendia um pacote de canetinhas coloridas.

Não sei se ele me reconheceu, mas eu sim. Fácil: ele tinha praticamente o mesmo aspecto desde a última vez que o vi... Quando, uns 28 anos? Exceto por um pequeno e natural envelhecimento da pele, estava tudo lá: os óculos de aro grosso preto, o cabelo escorrido, a cara triste… O mesmo olhar perdido, de alguém que não consegue se ajustar ao mundo e anda à margem da vida.

Na adolescência estudava na mesma escola que eu. Sempre o via sozinho. Durante os dois ou três anos em que o vi circular pelos corredores e pelo pátio da escola, nunca o vi conversar com alguém. Ele era invisível, ou quase. Só o percebi por causa da minha natural identificação com os desprezados pela sociedade que trago comigo desde sempre. Entretanto, nem eu falava/falei com ele. Na época eu tinha ainda menos habilidades sociais do que hoje.

Se é verdade que não se deve zombar dos nerds porque no futuro serão nossos patrões, o que deu errado com aquele espécime? O cara vende canetinhas na rua. E traz ainda o mesmo olhar triste, de quem foi esmagado pelo mundo e não encontra lugar aqui. Um olhar de desespero sufocado dia após dia, dia após dia…

Recusei as canetinhas. Insensibilidade?. Ele passou por mim e foi embora. Não olhei para trás.

Novo blog

Não sei se alguém ainda se importa com esse negócio de blog (admito que, pra mim, tem dias que soa como uma coisa muito "antiga"),...