quinta-feira, 28 de abril de 2016

Kário - Roteiros em forma de layout


Tirei essa fotinho de algumas páginas de roteiro do Kário em que estou trabalhando. Eu faço os roteiros assim, em forma de layout - um tipo de "roteiro desenhado". Não é o único jeito de fazer um roteiro, nem o melhor, muito menos o "certo". É apenas o jeito que funciona melhor pra mim. Quando escrevo a história ao mesmo tempo em que faço os esboços das cenas consigo antever se minhas ideias vão caber na página, se não tem texto demais, se a narrativa está funcionando, coisas assim...

Depois eu escaneio uma página a lápis do Jeanzinho e posto aqui pra vocês verem. :)

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Medo de escrever

Ontem um leitor fez um comentário na minha página do Facebook falando sobre Dívida de Sangue, primeira HQ do Kário que fiz já há uns bons anos (13, para ser exato) e disse que havia lido a história na época em que ela fazia parte do acervo da Editora Nona Arte. Respondi dizendo que havia interrompido a continuidade do personagem devido a alguns pequenos "problemas" e que depois acabei indo fazer outras coisas.

Pretendia falar que "problemas" seriam esses ali mesmo no comentário, mas depois achei que seria melhor falar sobre isso em outro lugar, já que esses "problemas" se resumem a uma coisa só: minha insegurança para escrever histórias.

Durante a vida encontrei outras pessoas com a mesma dificuldade. Embora eu não me considere alguém importante no cenário dos quadrinhos nacionais (muito longe disso), há algumas pessoas que se interessam pelo que tenho a dizer. Fiquei pensando que talvez haja outras pessoas com o mesmo problema que eu (pelos depoimentos de escritores que vejo por aí, parece ser algo bastante comum entre pessoas que escrevem, ou tenta escrever), então pode ser que falar da minha experiência seja útil a alguém.

Sempre tive medo de escrever. Quando olho o que estou escrevendo sempre acho que a história está fraca, ou simples demais, ou boba demais. Fico pensando "Quem eu penso que sou? Nunca vou ser tão bom quanto [*Insira o nome do seu(sua) autor(a) favorito(a) aqui*]".

As poucas histórias que escrevi, acredite, é porque fui meio que "obrigado". A primeira história "oficial", publicada, foi o Slane. O editor Tony Fernandes havia me pedido para produzir uma HQ de herói para publicar nuns almanaques que ele queria publicar. Na época eu era involuntariamente isolado do meio quadrinístico, não havia internet, eu não conhecia ninguém que escrevesse... O jeito foi escrever eu mesmo. Peguei uns elementos de V de Vingança, HQ que havia me impressionado muito na época, e vi o que poderia fazer a partir daquilo. Para minha surpresa, os leitores acabaram gostando... e me vi numa enrascada. Eu estava tão certo de que ninguém iria se importar com aquela história que nem me dei ao trabalho de pensar no que faria a seguir. Não haveriam "capítulos seguintes" pra mim! Aí conheci na editora 3 rapazes que escreviam; tinham gostado do Slane e se ofereceram para escrevê-lo. Dei graças a Deus quando isso aconteceu - fiquei livre da tarefa de escrever! Não lembro porquê, eles acabaram não escrevendo. A revista fechou, a editora também e o personagem ficou por isso mesmo.

Depois veio a Turma do Barulho, publicada pela Editora Abril. Outro "quase pesadelo". Havia pouca gente para escrever (três, contando comigo), por isso nem poderia deixar de escrever ou isso comprometeria o trabalho de todos. Tínhamos uma revista mensal para fazer, era preciso criar histórias para abastecê-la. Como sempre acontece, se me obrigo a escrever acaba saindo alguma coisa. Qualquer coisa era inspiração. Rumo Às Estrelas, por exemplo, foi inspirada numa notícia que eu tinha visto no jornal sobre uns bandidos que deram um golpe numa escola.

Por isso, sempre que pude, tentei trabalhar com amigos roteiristas. Era mais confortável deixar que outro escrevesse para que eu não tivesse que enfrentar isso. Só que na vida a gente precisa enfrentar as coisas, cedo ou tarde, né?

Do ano passado para cá decidi voltar a escrever minhas HQs. Não que eu tenha alcançado alguma "iluminação" ou coisa parecida. Sempre que cometo a "ousadia" de escrever uma história nova, fico ouvindo aquela vozinha dentro da cabeça dizendo "Você não sabe fazer isso. Desista. Essa história tá uma droga, ninguém vai se interessar por ela!". Um amigo me perguntou outro dia como fiz pra superar meu medo de escrever. Minha resposta foi: "Não superei". O que eu fiz foi apenas tomar coragem e começar a escrever. Lembrando que coragem não é não ter medo, mas agir APESAR do medo.

A vozinha continua falando, porém com menos força agora. Isso porque mudei o foco para outra direção (e se você também sofre para escrever, sugiro que faça o mesmo): o prazer que sinto ao criar uma história. Desde que voltei a escrever, fiz 3 histórias do Jeanzinho, tem uma quarta a caminho e ideias para mais outras. Eu me divirto pra caramba quando estou escrevendo e desenhando ele. Com meu alter ego infantil ainda aprendi uma coisa legal: a capacidade de rir de mim mesmo. Isso é libertador! Eu ria enquanto escrevia e desenhava O Menino Quase Nu, por exemplo, e rio até hoje quando revejo :) E ainda tem uma história nova do Kário sendo escrita.

Então é isso... Deixe a vozinha chata falando sozinha, não tente dialogar com ela. Concentre-se na satisfação que você sente com a história que está escrevendo. Se você está curtindo fazê-la, existem boas chances de que outras pessoas vão curtir também.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Jesse Marsh e Tarzan

Estava folheando um encadernado de histórias em quadrinhos do Tarzan, da Ebal (Editora Brasil-América), presente do velho amigo A. Moraes, e me detive um pouco mais nas HQs produzidas pelo Jesse Marsh.

 
Pelo que sei, os leitores de Tarzan não gostavam muito dele. Li isso uma vez numa sessão de cartas da revista – o editor, Aizen, havia comentado. Meu artista favorito do homem-macaco é, e acho que sempre será, Russ Manning, mas as histórias de que mais gostei até hoje do Tarzan foram as que o Jesse Marsh fazia. Não sei se era ele quem escrevia as histórias (na época as editoras cultivavam o péssimo hábito de não creditar os autores); consta que pelo menos algumas foram escritas por Gaylord Dubois, mas não sei dizer quais.

As história feitas por Marsh eram, a meu ver, mais fiéis ao espírito das histórias escritas por Edgar Rice Burroughs; o clima de aventura permeava tudo, mesmo as cenas mais simples, quando, por exemplo, os personagens estavam apenas sentados conversando perto de uma fogueira. Seus personagens eram mais bem elaborados e caracterizados, tinham alma e profundidade, coisa que eu não via em artistas mais “festejados” pelos leitores – inclusive o próprio Manning, de quem eu gosto tanto.

Jesse Marsh começou sua carreira como animador nos estúdios Disney e depois foi trabalhar com quadrinhos. O desenho dele tinha influências do Milton Caniff, perceptível nas grandes massas de preto que usava em seus desenhos; penso que tinha também algo de artista plástico, pela grande variedade de texturas que ele conseguia com o pincel.


Uma coisa que também aprecio no trabalho dele é a forma como desenhava os povos africanos. Numa época em que os desenhistas costumavam desenhar pessoas negras (e de outras etnias) todas com a mesma cara, Marsh desenhava esses personagens de forma distinta uns dos outros. Foi também ele o primeiro a fazer HQs do homem-macaco especialmente para revistas. As revistas já existiam, mas até então o material publicado eram tiras de jornais reeditadas para o formato das revistas.

terça-feira, 12 de abril de 2016

Esmola (Crônica)

Saindo do banco, onde fui buscar uns caraminguás para resolver pequenas questões financeiras imediatas, eis que um braço escuro e magro emerge da calçada para chamar minha atenção. Era um morador de rua (ou alguém que se passava por tal - hoje em dia, como ter certeza?):
- Me vê dez reais, pelo amor de Deus!
Pensei cá com meus botões: "Dez reais? DEZ REAIS? Diabos, o que houve com o 'Um trocadinho pelo amor de Deus?' A inflação está tão alta assim?". O homem, obviamente sem saber da minha precária situação financeira, aguardava com a mão estendida os dez reais que nunca cairiam ali. Só pude responder:
- Meu amigo, se você soubesse como estou, estaria guardando um lugar pra mim na calçada, porque daqui a pouco eu vou ter que me sentar aí com você.
Ele torceu a cara com uma expressão que não consegui distinguir se era raiva, incredulidade ou desprezo. Não fiquei esperando para descobrir o que era. Me mandei!

Novo blog

Não sei se alguém ainda se importa com esse negócio de blog (admito que, pra mim, tem dias que soa como uma coisa muito "antiga"),...